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sábado, 27 de setembro de 2014

O CRISTO VOADOR

O crucifixo no centro do altar





"nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos" (1Cor 1, 23)







O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica no nº 218, faz a seguinte pergunta: "O que é a liturgia?" 

E responde:

A liturgia é a celebração do Mistério de Cristo e em particular do Mistério pascal. Nela, através do exercício do ofício sacerdotal de Jesus Cristo, com sinais se manifesta e se realiza a santificação do homem e é exercido pelo Corpo Místico de Cristo, que a cabeça e os membros, o culto público devido a Deus.
E a Instrução geral sobre o Missal Romano define o que é o Culto público devido a Deus, a Santa Missa;

“Testemunho da Fé Inalterada; 2. A Natureza Sacrifical da Missa, que o concílio de Trento solenemente afirmou, em concordância com a universal tradição da Igreja, foi de novo proclamada pelo Concilio Vaticano II, que proferiu sobre a Missa esta significativas palavras: ‘O nosso Salvador na última ceia instituiu o Sacrifício Eucarístico de seu Corpo e Sangue para perpetuar o Sacrifício da Cruz através dos séculos até a sua volta, e para confiar a Igreja, sua Esposa muito amada, o memorial de sua morte e ressurreição’2.”


Bem como o Dogma da Santa Missa;

- A Santa Missa é um Sacrifício verdadeiro e distinto.

- No Sacrifício da Missa, o Sacrifício de Cristo na Cruz é feito presente, a sua memória celebrada, e o seu poder salvífico empregado.

- O Sacrifício da Missa não é meramente um sacrifício de louvor e ação de graças, mas também um sacrifício da expiação e impetração.

A partir desta definição, entendemos que o centro da ação litúrgica da Igreja é Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, e seu mistério pascal da Paixão, Morte e Ressurreição. A celebração litúrgica deve ser a transparência dessa verdade teológica. Por muitos séculos, o símbolo escolhido pela Igreja para a orientação do coração e do corpo durante a liturgia é uma representação de Jesus crucificado.

A centralidade do crucifixo na celebração do culto divino é mais proeminente no passado, quando existia a tradição de que o padre e os fiéis durante a celebração eucarística estavam voltados para o crucifixo no centro, acima do altar, que era geralmente contra a parede. Para o costume de celebrar o atual "versus populum", muitas vezes, a cruz está localizada ao lado do altar, perdendo a sua localização central.


O então teólogo e cardeal Joseph Ratzinger, tinha reiterado que, mesmo durante a celebração "versus populum", o crucifixo devia ser mantido na sua posição central, mas é impossível pensar que a imagem do Senhor crucificado - que exprime o seu sacrifício e então o significado mais importante da Eucaristia - pudessem ser de alguma maneira perturbadora. Depois de se tornar Papa, Bento XVI, em seu prefácio ao primeiro volume de sua "Gesammelte Schriften", disse que estava feliz pelo fato que se estava fazendo sempre mais vezes a sua proposta em seu famoso ensaio 

"Introdução ao Espírito da Liturgia". Esta proposta foi a sugestão de "não avançar com novas transformações,” Mas simplesmente pôr a cruz no centro do altar, para que esta possa assistir ao mesmo tempo sacerdote e fiéis, para serem orientados, assim, para o Senhor, a Quem nós oramos juntos."


O crucifixo no centro do altar nos mostra o esplendor do significado da sagrada litúrgica, que podem ser resumidas no nº 618 do Catecismo da Igreja Católica, uma parte que termina com uma citação agradável de Santa Rosa de Lima e Santa Catarina de Sena:


A cruz é o único sacrifício de Cristo, "único mediador entre Deus e os homens" (1Tm 2,5). 

Mas, pelo fato de que, na sua Pessoa Divina encarnada, "de certo modo uniu a si mesmo todo homem" (Concílio Ecumênico Vaticano II, Gaudium et Spes, 22), "oferece a todos os homens, de uma forma que Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao Ministério Pascal. (ibid.). 

Chama a seus discípulos a "tomar a cruz e a segui-lo" (Mt 16, 24), 
Pois "sofreu por nós, deixou-nos um exemplo, a fim de que sigamos os seus passos" (1Pd 2, 21). 
Quer associar a seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros beneficiários dele. (cf. Mc 10,39 João 21,18-19; Col 1:24). 

Isto realiza-se de maneira suprema em sua Mãe, associada mais intimamente do que qualquer outro ao mistério do seu sofrimento redentor. (cf. Lc 2,35).


"Fora da Cruz, não existe outra escada por onde subir ao céu". (Santa Rosa de Lima, cf. P. Hansen, Vita mirabilis, Louvain 1668).


“Abraça, portanto, Jesus Crucificado elevando a ele o olhar do teu desejo! Toma em consideração o seu amor ardente por ti, que levou Jesus a derramar sangue de todas as partes do seu corpo! Abraça Jesus Crucificado, amante e amado e nele encontrarás a verdadeira vida, porque ele é Deus que se fez homem. 


Que o teu coração e a tua alma ardam pelo fogo do amor do qual foi coberto Jesus cravado na cruz!” Das “Cartas” de Santa Catarina de Sena (1347-1380) (carta n.165 a Bartolomea, esposa de Salviato da Lucca)


A Instrução Geral do Missal Romano determina (n.308):


“Sobre o altar ou junto dele coloca-se também uma cruz, com a imagem de Cristo crucificado, que a assembleia possa ver bem. Convém que, mesmo fora das ações litúrgicas, permaneça junto do altar uma tal cruz, para recordar aos fiéis a paixão salvadora do Senhor.”
Essa cruz alude ao Santo Sacrifício de Nosso Senhor, que se renova no altar.

“A Linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é força Divina. (...)” (I Cor 1, 18)

A Cruz, que para a antiguidade era um dos sinais mais repulsivos existentes, para nós se tornou Sinal de Salvação. Da mesma forque São Paulo e o Apóstolo São João expressam isso de forma maravilhosa dizendo que o momento do Sacrifício de Nosso Senhor como momento em que “o Filho do Homem é Glorificado” (Jo 13,31) No Calvário se esconde a Glória.

“Liturgistas” utilizam justificativa como estratégia, por exemplo, para abolir que se coloque a imagem de Jesus Crucificado sobre ou próximo ao altar, e se utilize no lugar a imagem de Jesus Ressuscitado. Ora, isso é contrário não só ao autêntico espírito da Liturgia Católica, mas também as próprias normas litúrgicas, como foi exposto acima.

Também, rechaçam que haja a figura de Jesus Crucificado na abside (=parede do fundo) das igrejas. Por exemplo, um conhecido artista sacro brasileiro, afirmou em uma entrevista que “representa Nosso Senhor vivo, porque quem preside a Missa é Jesus vivo e não morto”. Respeitosamente, discordo da aplicação desta ideia aqui.

Explico: 

É Nosso Senhor Vivo e Ressuscitado que está presente na Santa Missa, claro, mas a Missa renova o Santo Sacrifício de Nosso Senhor, que se dá em Sua Presença Real e Substancial nas aparências do pão e do vinho (Catecismo, n. 1362-1372; 1374-1377), 

E por isso a tradição litúrgica do ocidente, legitimamente católica, sempre valorizou a figura de Jesus Crucificado na abside das igrejas. Esse rechaço a imagem do Crucificado é reforçado ainda por uma mentalidade protestante que nos rodeia, que abomina Jesus Crucificado, dizendo:

"Jesus não está na Cruz, mas Jesus está Vivo!”


“Olharão para Aquele que Transpassaram” (Jo 19, 37)

Ora, evidente que nós católicos cremos que Nosso Senhor Ressuscitou e está Vivo! Mas só Ressuscita quem morre. Na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, DEUS MORREU (Catecismo, n. 601)!


É uma verdade teológica chocante, mas isto é cristianismo: NÃO é um "meio-termo" entre duas ideias em tensão, mas o mergulhar profundamente nas duas para encontrar a Verdade da Maravilha do Amor de Deus, da Sua Infinita Misericórdia, do seu Poder Redentor e mesmo do caráter redentor do sofrimento humano e do Céu maravilhoso que nos espera!


Olhamos para a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e não vemos a morte, mas a vida. Olhamos Crucificado para o Crucificado e não vemos algo repulsivo, mas o Amor, o Puro-Amor feito Carne, que se aniquilou até a última gota de Sangue para pagar pelos nossos pecados.


Retomamos o que disse o saudoso Papa João Paulo II, na sua maravilhosa encíclica Ecclesia de Eucharistia (n.10):

"Às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesma. (...) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? 

A Eucaristia é um Dom demasiadamente grande para suportar ambiguidades e reduções."


Na celebração em "Versus Deum" ("Voltado para Deus", com sacerdote e fiéis voltados para a mesma direção), que é a forma tradicional de celebrar e a forma como o Papa recomendou no seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", o costume é colocar o crucifixo no centro, acima do altar, em cima do Sacrário ou na parede, fazendo com que seja ponto de referência. 

Se a celebração for "Versus Populum" (com o sacerdote voltado para o povo), o Papa, no mesmo livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", expõe dá a seguinte orientação a respeito da cruz:

"Ela deveria se encontrar-se no meio do altar, sendo o ponto de vista comum para o sacerdote e para a comunidade orante."

E completa, expondo o problema de se colocar a cruz na parte lateral do altar ou ao lado dele, ao invés de colocar no centro, nas Missas em Versus Populum:

"Considero as inovações mais absurdas das últimas décadas aquelas que põe de lado a cruz, a fim de libertar a vista dos fiéis para o sacerdote, Será que a cruz incomoda a Eucaristia? 

Será que o sacerdote é mais importante que o Senhor? 


Este erro deveria ser corrigido o mais depressa possível, não sendo preciosas para isso nenhumas reconstruções. 

O Senhor é o ponto de referência."


Escreve também um artigo o sábio Padre Juvan Celestino da Silva, com o seguinte título: 

O Cristo voador, o Cristo sem Cruz nas Igrejas, a nova moda. Falando sobre essa nova moda que muitas paróquias estão implantando nas Igrejas, de um Cristo sem Cruz.

Ele diz o seguinte:

Devemos de antemão nos lembrar que o Mistério de Cristo é inseparável do mistério da Cruz. Após Pedro responder que Jesus é o Messias (Mc 8,29); e para este título não se limitar a um triunfalismo imediato e próprio, Jesus acrescenta:

“O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e depois de três dias ressuscitar” (Mc 8,320)



Um mundo sem Cruz sem o sinal da Cruz Salvadora de Jesus cairá facilmente numa ideia distorcida do cristianismo. Tornar –se – á em um cristianismo hedonista, e o Cristo tornar-se-á em um Cristo do prazer, um Cristo fashion.


Quanto a este perigo o Apóstolo Paulo dá uma dura nos cristãos da comunidade de gálatas:


“Ó Gálatas insensatos, quem vos fascinou, a vós ante olhos foi desenhada a imagem de Jesus Cristo crucificado? … sois tão insensatos que, tendo começado pelo espírito, agora acabais na carne?” (Gl 3,1-3)


Substituindo em nossas Igrejas a imagem do Crucificado por um Cristo triunfante, glorioso e sem a Cruz, corremos o risco de cairmos em uma heresia disfarçada que se nega a humanidade do Verbo Encarnado. 

Uma Igreja sem Cruz é uma Igreja herética, uma Igreja “protestantizada”. Devemos reconhecer com pesar que vivemos uma verdadeira crise na teologia da Cruz.

Para terminar faço a seguinte observação:

No momento em que estão rejeitando e escondendo Jesus crucificado, o símbolo maior do Amor de Deus pela humanidade, estão deixando de pertencer a Igreja Católica para fundar uma nova seita com alguns atributos católicos.


“Pois há muitos dos quais muitas vezes vos disse e agora repito, chorando, que são inimigos da Cruz de Cristo” (Fl 3,18)


In Corde Iesu et Mariae semper,


Por: Peterson  Cordeiro Leal 

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